sexta-feira, outubro 17, 2008

ed Ordiv

Ei! Eu nao te comprei um escudo?
É mesmo... acho que acabei nao comprando pra mim também.
Eu nao te avisei desse buraco?
Nao faz nem dois tempos que eu tambem caí...

Eu acho que eu esqueci meu escudo em algum lugar...
Estou com medo de procurar e nao achar
E me achar louca por descobrir que eu nunca o comprei.

Que bobeira hein?
Logo uma coisa tão trivial como um escudo... e eu nao sei onde esta o meu...

E agora? Como eu vou sair por aí?
As flexas estao no ar, a todo momento
E as flexas que apontam pra mim são frias, e me atingem no coração
Assim como atingiram a ti.

...

Eu nao consigo respirar.
Esse ar de bolhas, que enche o meu quarto, é carregado demais pra entrar nos meus pulmões
E a tensão das nuvens negras, no céu do meu teto, me mortifica
Faz meu sangue azular.

E eu... que podia jurar que te comprei um escudo...
Não acho nem o meu.

Esperando... só mais um pouco...

Eu estou esperando...
Esperando dezembro ... e janeiro
E esperando que seja a ultima vez em que eu tenha que esperar
Porque eu espero desde que eu me lembro.

Quando eu era criança, eu nao era nada, nao podia nada, nao ia a lugar nenhum. Entao eu esperei decadas que pareceram séculos, pra que eu pudesse.. alguma coisa
Depois, eu podia ir até a esquina, podia ir no cinema. Mas eu tinha que esperar. Esperar uma carona, esperar uma companhia, esperar que eu pudesse ir realmente.

Mas eu era tão sozinha... e eu quis alguem pra mim.
E tive que esperar encontrar esse alguem.
E depois que encontrei, tive que esperar que ele me notasse.
...Anos que duraram décadas.

Aí eu nao podia voltar tarde. Nao podia viajar sozinha, Nao podia ir pra onde bem entendesse. E eu tive que esperar.
Eu esperei. Esperei o vestibular.
Aí vieram outros "nao pode", junto com a vontade de ficar junto. Todos os dias. Todas as noites.
E eu tive que esperar. Mais do que eu pude aguentar.

E entao eu peguei um atalho. Fui pra longe, mudei de ares, comprei a minha espera na marra.
Mas estava sozinha, bolso vazio, coração distante
E no meio do nada, eu tive que esperar. Uma luz, uma saída, uma direção.

E depois desses meses, que se arrastaram, e me torturaram, me mantendo refem do seu destino, veio a minha luz.
E eu pude chegar bem perto. Mas ainda não tão perto a ponto de estar lá.

Pediu-me para esperar mais, esse meu destino preguiçoso...
E essa minha felicidade atrasada, atrapalhada e dispersa, que sempre diz estar chegando, demora sempre mais... Só mais um mês... só mais um ano... só mais uma vida...
No paradoxo do amanha de um hoje que nao acaba, que parece nao chegar nunca