domingo, dezembro 23, 2007

Lembra da minha calça coral??? A blusa prateada demodé, as sandálias bege que nao combinavam em nada com coisa nenhuma? E a minha simpatia cautelosa que tentava esconder minha segurança e minha timidez. E você quase nao falava. Como sempre aliás. A vez sempre foi minha..... com seus olhos vivos atentos, sempre observando e analizando; quase nao falava, até que tivesse o momento certo de falar.

Eu me lembro de cada detalhe. Dos braços que chamaram a minha atenção, dos dois anos em que eu esperei pela minha vez enquanto a fila estava muito grande, das caronas de bicicleta, e qdo você distraidamente passava rente a algum carro parado e meus pés batiam nos pneus. E eu me zangava e me irritava. Como sempre. Mas depois tinha o sofá estampado e o pouco tempo, a sua paciência impaciente, e tantas outras coisas tão infantis e desatuais. E os momentos de sabedoria e maturidade, quando você me acalmava, quando me fazia adormecer deitada no seu colo enquanto me olhava com jeito de quem vê coisas que eu nao conseguia a ver. E fazia declarações de amor baixinho, que eu sempre ouvia, mesmo quando ja estava dormindo. E era o sono dos deuses. E tinha a hora de ir e as mãos que balançavam na janela, enquanto você ia sumindo, numa esquina apos a outra.

As vezes em que nos arrumávamos como adultos e saíamos para jantar como adultos, para comemorar alguma data especial. E, como crianças, escolhiamos sempre os rodízios de pizza e competíamos, na nossa gulodice adolescente.
As vezes em que eu chorava, e voce estava do meu lado, eu estando certa ou nao.
E quando eu te explicava algo banal que eu tinha aprendido, ou mais uma teoria maluca, e você, por amor ou benevolência, escutava atento, como se fosse uma verdade absoluta ou simplesmente me dava a atenção de que eu precisava,sem ridicularizar ou contextar, como um pai, que houve seu filho de 4 anos contar sobre como foi a escola e sobre como se somam dois mais dois.

E o seu absoluto zelo e respeito pelo meu castelo florido, pelo meu jardim perfeito, pela minha visão romantica das coisas, quase que lunática, deixando que eu habitasse nesse castelo sem me fazer enchergar a realidade das duras paredes de pedra.... (continua)

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